Associação
Bento de Jesus Caraça



O Problema do Cancro

Instituto Português de Oncologia

Este livro é o único livro da colecção cujo autor é uma instituição e não uma pessoa. O Instituto Português de Oncologia em 1941 apenas existia em Lisboa estava ainda limitado a três edifícios na zona em que ainda hoje está implantado.

Embora os conhecimentos sobre fisiologia, biologia molecular e os mecanismos de desenvolvimento do cancro tenham avançado muito desde a data de publicação deste livro (Outubro de 1941), a estrutura global do livro é ainda hoje adequada e as informações nele veiculadas continuam em parte significativa actuais.

A perspectiva em que o livro é escrito, bem como as limitações que lhe estão associadas, são explicitadas na introdução que a seguir se transcreve:

«Na verdade, o cancro é produzido por uma variação genética que surge numa célula somática de crescimento normal»
LOCKHART-MUMMERY

Dar noções úteis sobre cancro aos que não são médicos ou dá-las aos profissionais, é tentativa realizada por vários autores, e a leitura de todas essas publicações, com excepção do magnifico livro de Bloodgood e do interessante volume dedicado por Mummery à Origem do Cancro, prova a dificuldade de produzir obra proveitosa. A educação e a propaganda fazem-se melhor pela publicação de «Boletins», onde os vários aspectos do problema vão sendo repetidas vezes focados; mas, mais uma tentativa, antecipadamente reconhecida como incompleta, é feita neste pequeno volume da Cosmos pelo Instituto Português de Oncologia.

Vamos repetir: que o cancro se cura e é um erro considerá-lo como um mal incurável; que muito se conhece sobre as causas do cancro e ele é um mal menos misterioso do que tantos outros que público e médicos julgam serem mais conhecidos do que os tumores malignos, não sendo verdadeira tal afirmação; que as cancerosos não estão irremediavelmente perdidos por esse mal os ter atingido; é que há tratamentos úteis, curativos do cancro; vamos, neste livro, repetir estas e outras afirmações já banais à força de repisadas em dezenas de publicações, como a necessidade do diagnóstico precoce, mas é só esse o fim desta publicação: repetir o que todos sabem sobre cancro e mostrar que isso é conhecido e praticado no Instituto Português de Oncologia.

Vamos ver qual o aspecto social da doença e um pouco a sua história; mostramos a estrutura dos nossos tecidos e como o cancro a modifica; a sua origem, o seu desenvolvimento, o seu diagnóstico, os seus tratamentos e até como, em tantos casos já, o cancro se pode evitar. Não vamos dar hipóteses, não vamos conduzir o leitor pelos novos caminhos que nos enchem da justa esperança de poder dizer qual a causa da alteração inicial da célula normal para ela se tornar o parasita de vida anárquica gerador do carcinoma. Não queremos dar aos leitores noções de complexidade, pois preferimos mostrar, com verdade, que se conhece muito sobre cancro, que ele se diagnostica facilmente, que pode curar-se em percentagens dignas de consideração e até pode evitar-se, tudo isto dependendo da educação do público, dos que exercem profissões para-médicas e até dos médicos.

Para obter a realização de quanto aí enunciamos é preciso combater ideias falsas, difundir conhecimentos úteis, dizer a verdade, educando e convencendo de que o cancro mata mais por ignorância e desleixo do que pelo desenvolvimento anárquico das células do nosso organismo, sua expressão patológica.

O livro está dividido em três partes. Na primeira parte analisa-se o aspecto social da doença.

A segunda parte é constituída por dois capítulos: no primeiro, é explicado O que é um Cancro pormenorizando a fisiologia normal de células e tecidos, bem como os desenvolvimentos anormais dessas células e tecidos que vão constituir o cancro. No segundo capítulo desta parte, são desenvolvidos alguns factos e teorias que, na altura, constituíam a visão do que eram As causas do cancro.

A terceira parte tem três capítulos. No primeiro, analisam-se os aspectos ligados ao Diagnóstico, quer no que diz respeito aos possíveis processos de diagnóstico, quer na importância do diagnóstico precoce para detectar a doença nas primeiras fases do seu desenvolvimento. Claro que as técnicas de diagnóstico evoluíram significativamente desde os anos 40 e, portanto, muito haveria aqui a acrescentar.

O segundo capítulo da terceira parte é dedicado aos Métodos de tratamento com relevo para métodos cirúrgicos e de radioterapia. Aqui, claro, também muito se evoluiu e, portanto muito mais haveria a referir, quer no que diz respeito a estes métodos, quer no que diz respeito a novos métodos.

O último capítulo é dedicado à Profilaxia do Cancro. No próprio texto se refere que muitos progressos eram (são) necessários, embora alguns aspectos fossem já referidos.

GSA