Marck Anahory Athias foi um médico português, professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, nascido em 11 de Dezembro de 1875 no Funchal e falecido em 30 de Setembro de 1946 em Lisboa. Foi membro fundador do Instituto Português de Oncologia (IPO).
Licenciou-se na Faculdade de Medicina de Paris em 1897 tendo também obtido o grau de Doutor. O seu trabalho científico em Paris foi particularmente relevante na área da Histologia, tendo trabalhado com discípulos de Santiago Ramón y Cajal, cujo trabalho o influenciou significativamente.
Iniciou a sua carreira em Portugal como preparador de Histologia e Fisiologia em 1903, tendo ingressado posteriormente como Médico Auxiliar no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana. Em 1910 é contratado como Professor Catedrático de Fisiologia da FML. Desenvolveu também trabalho no Instituto Bento Rocha Cabral.
Desde cedo se interessou pelo cancro e esteve, com outros professores da FML na origem em 1923 do Instituto Português para o Estudo do Cancro, liderado pelo Prof. Francisco Gentil, tendo feito parte da primeira Comissão Directora. O Instituto Português para o Estudo do Cancro esteve na origem do Instituto Português de Oncologia.
Na época de criação do Instituto, o cancro era ainda uma doença mal conhecida, quer da população em geral, quer mesmo da classe médica. Por isso uma enorme preocupação em divulgar informação sobre a doença, as possibilidades de cura e a importância da prevenção. Marck Athias dava muita importância a estes aspectos e, por isso, usava todos os meios possíveis para conseguir estes objectivos. A escrita de O Problema do Cancro para a Biblioteca Cosmos vinha na sequência de outras acções e correspondeu certamente aos objectivos centrais do seu trabalho no campo da divulgação.
Mas a principal característica de Athias era a profundidade do seu trabalho científico de observação e investigação. A sua obra científica foi ampla e profunda, sobretudo nas áreas da Histologia normal e patológica, Citologia, Endocrinologia Sexual e, claro, Oncologia. Para além da sua actividade científica, merece relevo a sua grande obra de educador e divulgador.
Marck Athias é um dos principais nomes da chamada Geração de 1911 e participou numa renovação profunda da medicina e da investigação científica em Portugal. Em 1911 iniciou-se um processo de renovação do ensino de medicina em Portugal, tendo Athias tido um papel relevante na introdução de técnicas de investigação experimental no ensino e investigação. Nesse ao, por exemplo, funda com Joaquim Fontes e Ferreira de Mira o Instituto de Fisiologia da FML de que assume o lugar de Director em 1919.
No trabalho de Isabel Amaral abaixo referenciado, a autora afirma:
A escola de Marck Athias defendeu um conjunto de ideais, alguns deles de inspiração positivista, característicos do ideário republicano e advogou um modelo de universidade e de investigação científica inspirado na reforma universitária alemã, iniciada em 1809. Os discípulos de Athias, particularmente Celestino da Costa e Ferreira de Mira, ecoaram através dos seus escritos doutrinários os debates sobre estas questões ocorridos na Europa e, muito especialmente em França, entre 1870 e a Primeira Guerra Mundial. Para além de defenderem uma prática universitária baseada na pesquisa, na qual a escola de investigação era uma peça fundamental, defenderam ainda a divulgação e a propaganda científicas na sociedade em geral, a promoção da cultura científica entre os investigadores de forma a contrabalançar a excessiva especialização, o intercâmbio científico entre pessoas e instituições, e, finalmente, a criação de sociedades científicas e de publicações especializadas.
Marck Athias é autor de diversas publicações que incluem várias biografias científicas, artigos de divulgação e, claro, um número significativo de artigos científicos.
Em http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p41.html encontra-se uma completa listagem dos textos de Marck Athias.
O texto da Prof.ª Isabel Amaral, Miguel Bombarda e a Escola de Investigação de Marck Athias (1897-1910) de 2006 é um interessante estudo, não só sobre Marck Athias e a sua obra, como sobre a envolvente da altura. É ainda relevante a contextualização do apoio de Miguel Bombarda às novas metodologias propostas por Marck Athias.
Fontes de informação:
GSA