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Bento de Jesus Caraça



Luiz de Freitas Branco


Luiz Maria da Costa de Freitas Branco foi um compositor português e figura de grande relevo no panorama cultural da primeira metade do século XX. Nasceu em Lisboa em 12 de Outubro de 1890 e faleceu na mesma cidade em 27 de Novembro de 1955. Como curiosidade registe-se que, através da sua mãe, Maria da Costa de Sousa Macedo, era descendente do Marquês de Pombal e que tinha também ligações familiares com Damião do Góis. Refira-se que Luiz de Freitas Branco habitou um palácio da Rua do Século que pertenceu ao Marquês de Pombal e à sua família.

A educação inicial de Luiz de Freitas Branco, incluindo a sua educação musical realizou-se toda em casa, com professores contratados pelos seus pais que tinham capacidade económica e cultural para, assim, proporcionar uma educação de qualidade ao seu filho. No caso da formação musical beneficiou de um conjunto de professores (piano e violino) de excelente currículo sob orientação de seu tio, o maestro João de Freitas Branco. Na realidade este tio acompanhou-o ao longo de toda a juventude e foi, provavelmente, o grande responsável pelo caminho que Luiz fará no domínio da cultura em geral e da música, em particular. Um dos professores que mais o influenciou foi Tomás Borba que lhe proporcionou formação avançada em vários aspectos da música.

Desde muito cedo compôs obras musicais, sendo de realçar a canção Aquela Moça aos 14 anos de idade e que ainda hoje é considerada uma obra notável. Ainda nesta fase da sua vida compõe um conjunto alargado de obras de uma qualidade notável para um compositor tão jovem e inicia aos 17 anos uma coluna de crítica musical no Diário Ilustrado.

O contacto frequente e aprofundado com grandes figuras europeias da composição e da execução musical que iam frequentando Lisboa, constituiu um poderoso estímulo para prosseguir a sua formação na Europa. Assim parte para Berlim em Fevereiro de 1910, onde frequentou nomeadamente aulas de composição, música antiga e metodologia de história da música. Também aqui a importância do seu tio, que o acompanhou inicialmente, foi determinante. Em Berlim, teve frequentes contactos com José Viana da Mota que vivia na cidade alemã nessa altura e que muito o estimulou e que lhe proporcionou alguns contactos com vários compositores.

Apesar das excelentes condições para aprofundar a sua formação musical e a divulgação internacional da sua obra, Luiz sente-se mal na Alemanha e sente a falta de toda uma envolvente que tinha em Portugal e da proximidade do seu tio que, por razões de saúde teve de regressar a Portugal. A sua estadia em Berlim, termina assim no final de Maio. O seu regresso a Lisboa é antecipado pela morte de seu tio.

Em 1911, em Paris, numa curta visita, conheceu Claude Debussy e interessou-se pela corrente impressionista.

Parece ter casado em 1911 com Stella de Ávila e Sousa de quem estava aparentemente muito apaixonado e cuja ausência em Berlim, terá sido uma das causas para o regresso. Curiosamente não há registo desse casamento. e o único documento oficial que se lhe refere é o registo de óbito do compositor. Não houve descendência desse hipotético casamento. O seu filho, João de Freitas Branco nasce de uma relação com Maria Clara Dambert Filgueiras.

Em 1916 foi nomeado professor do Conservatório de Lisboa de que foi sub-director de 1919 a 1924, tendo sido professor e influenciado muitos compositores e instrumentistas portugueses, como por exemplo Joly Braga Santos e Fernando Lopes Graça. Em colaboração com Viana da Mota foi realizada uma profunda reforma do Conservatório da maior importância para a evolução do ensino artístico em Portugal.

Em 1925 assumiu a direcção artística do Teatro de S. Carlos, cargo que manteve até 1927. Em 1929 funda a revista Arte Musical que vai dirigir por cerca de 20 anos.

Em 1948 foi um dos fundadores da instituição Juventude Musical Portuguesa.

Politicamente aproximou-se inicialmente do Integralismo Lusitano, mantendo contactos com muitas das suas principais figuras. Isso não o impediu de posteriormente se aproximar de figuras claramente progressistas, como Bento de Jesus Caraça e António Sérgio. Colaborou activamente na Universidade Popular e escreveu três livros para a Biblioteca Cosmos.

A sua evolução política que o foi afastando do Estado Novo levou a que tivesse sido afastado de várias instituições portuguesas como foi o caso do Conservatório e da Emissora Nacional. Na sequência de uma acusação de comportamento inadequado nas aulas e de factos relacionados com a sua vida familiar, foi afastado do Conservatório em 1940. Iniciou nessa fase, colaboração com a Emissora Nacional de onde foi demitido em 1954 por alegado comportamento impróprio na sequência do falecimento do Presidente da República, Óscar Carmona.

Luiz de Freitas Branco foi muito importante na sua faceta de professor de composição, no desenvolvimento de uma importante geração de músicos que foram determinantes no século XX no panorama musical português, como é o caso de Fernando Lopes-Graça, Joly Braga Santos, Armando José Fernandes, Jorge Croner de Vasconcelos e António Fragoso.

Na Biblioteca Cosmos publicou:

Estes dois últimos títulos foram republicados num só volume em 2020 pela Editorial Caminho sob o título A Vida e a Personalidade de Beethoven.

Muitos dos seus familiares directos estiveram ou estão ainda ligados à música. É o caso do irmão, o maestro Pedro de Freitas Branco, o filho João de Freitas Branco, musicólogo e matemático, que criou o programa O Gosto pela Música que manteve durante 29 anos. O neto João Maria de Freitas Branco, filósofo é autor do livro O músico-filósofo sobre o avô. Digno de referência é também o seu trineto Luís de Freitas Branco, consultor de comunicação e crítico musical.

A tese de doutoramento de Ana Telles (em língua francesa), na Université de Paris IV (Paris-Sorbonne) e Universidade de Évora, Luís de Freitas Branco (1890-1955):parcours biographique et esthétique à travers l´oeuvre pour piano é totalmente dedicada a Luiz de Freitas Branco e à sua obra, sobretudo à obra para piano e constitui um documento notável para o conhecimento do compositor. É de referir a extensa bibliografia, em grande parte comentada no miolo da tese.

A tese de mestrado de Vânia Filipa Tavares Moreira, apresentada à Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de Castelo Branco, De Luís de Freitas Branco a Alexandre Delgado: uma linhagem de compositores que marcou a escrita musical do século vinte em Portugal é outro documento académico de grande interesse sobre um conjunto de compositores portugueses, incluindo Luiz de Freitas Branco.

No artigo de Alexandre Delgado sobre Luiz de Freitas Branco adiante referenciado, encontra-se uma extensa listagem das suas obras musicais e dos seus textos publicados, bem como de uma extensa bibliografia sobre o músico.

Nos arquivos da RTP, pode ser visto um interessante programa sobre a vida e a obra do compositor Luiz de Freitas Branco (1890-1955), recordada por aqueles que o conheceram .

Fontes de informação:

Para além das teses académicas anteriormente citadas, referem-se:

GSA