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Fernando Lopes-Graça


Fernando Lopes-Graça, nasceu em Tomar, em 17 de Dezembro de 1906 e faleceu na Parede, em 27 de Novembro de 1994. Foi um compositor, maestro e musicólogo muito ligado à música moderna e envolvido na oposição ao regime salazarista. Foi um dos maiores compositores portugueses do século XX.

Iniciou a sua aprendizagem musical ainda em Tomar, a sua terra natal onde, aos 14 anos começa a trabalhar como pianista no cine-teatro de Tomar onde, com grande autonomia, realiza os seus próprios arranjos das músicas que toca.

A sua formação académica inicia-se em 1924 frequentando o curso superior do Conservatório Nacional de Lisboa onde foi aluno de Adriano Meira (Curso Superior de Piano), Tomás Borba (Composição), Luís de Freitas Branco (Ciências Musicais) e Vianna da Motta (Classe de Virtuosidade).

Em 1928 inicia a frequência do curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Envolvendo-se nas lutas académicas, acaba por abandonar a Faculdade em 1931 em protesto contra decisões do Conselho Escolar de repressão a uma greve de estudantes. Volta mais tarde à Faculdade, em Lisboa e, posteriormente em Coimbra, mas nunca termina o curso.

Ainda como estudante funda em Tomar o semanário republicano A Acção. No contexto do Conservatório Nacional colabora na formação da revista Música.

Fernando Lopes-Graça em 1931 conclui com a mais alta classificação o concurso para Professor de Solfejo e Piano do Conservatório Nacional. Não chega a tomar posse porque é preso pela PIDE no Aljube e posteriormente desterrado para Alpiarça. Em 1935 é de novo preso e enviado para o Forte de Caxias, onde permanece até 1937.

Após a sua libertação e depois de lhe ter sido recusada anteriormente por decisão da polícia, a concessão de uma bolsa à qual tinha concorrido com êxito, acaba por ir para França para aprofundar os seus conhecimentos musicais à sua custa.

Em 1945, Lopes-Graça integra o MUD de que virá a ser dirigente. No contexto do MUD funda um coro denominado Coro do Grupo Dramático Lisbonense, que mais tarde será denominado Coro da Academia dos Amadores de Música, nome pelo qual ficará conhecido. Em 1948 Lopes-Graça adere ao Partido Comunista Português.

Lopes-Graça é alvo de uma perseguição feroz do regime salazarista que, por exemplo, proíbe, nos anos 50 do século passado, todas as orquestras portuguesas de tocar obras suas. O regime retira-lhe os direitos de autor das suas obras e anula-lhe o diploma de professor do ensino particular. É também obrigado a abandonar a Academia dos Amadores de Música.

Fernando Lopes-Graça é compositor de um extenso conjunto de obras musicais. Uma listagem das suas obras principais está disponível na página da Wikipedia em português que lhe é dedicada. As suas Canções Heróicas e as Canções Regionais Portuguesas são provavelmente as obras mais populares entre o grande público, mas outras peças como o Concerto para Violoncelo encomendado por Rostropovich, o Requiem pelas Vítimas do Fascismo e uma extensa obra para piano de que se destacam as seis Sonatas, são obras de grande peso na musicografia portuguesa.

Lopes-Graça e Michel Giacometti desenvolvem uma intensa actividade de recolha de música tradicional portuguesa ao longo de todo o território nacional, trabalho que é ainda hoje um marco no conhecimento desse tipo de música. Lopes-Graça aproveita o conhecimento levantado, para deixar a sua música erudita ser influenciada pela música tradicional portuguesa.

Lopes-Graça também escreve um conjunto notável de obras sobre música, para além da sua intervenção política.

Na Biblioteca Cosmos, Lopes-Graça é autor de duas obras:

Na Biblioteca Cosmos foi ainda tradutor de uma obra de Elie Siegmaster, A Música e a sociedade, número 96 da colecção publicada em Outubro de 1945.

Terminou o Dicionário da Música que tinha sido iniciado por Tomás Borba. Trata-se de uma obra completíssima de grande importância no contexto da cultura portuguesa. É uma edição das Edições Cosmos, publicada em fascículos de 1956 a 1958, mas cuja preparação se iniciou em 1954.

Tem uma longa colaboração (281 textos*) com a Seara Nova, que se inicia em 1930, numa intervenção principalmente voltada para a música. Aqui pode-se aceder a esse largo conjunto de intervenções. Por divergência com a linha seguida pela revista, abandona esta colaboração em 1949.

Publicou ainda um conjunto de outras obras, das quais se dá relevo às seguintes:

Muitas destas obras foram posteriormente editadas pela Editorial Caminho na Colecção Obras Literárias de Fernando Lopes-Graça.

Depois do 25 de Abril de 1974, Fernando Lopes-Graça, em 1981 é feito Grande Oficial da ordem militar de Santiago da Espada. Em 1987 é agraciado com a Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Em 1988 recebeu um Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro.

Após a morte de Lopes-Graça, o coro da Academia dos Amadores de Música passa a designar-se Coro Lopes-Graça da Academia de Amadores de Música, em sua homenagem.

Refere-se uma pequena, mas interessante biografia de Fernando Lopes-Graça da autoria de Teresa Cascudo, no sítio do Instituto Camões.

O espólio de Fernando Lopes-Graça foi por ele doado à Câmara Municipal de cascais e está depositado no Museu da Música Portuguesa naquele concelho.

Há uma extensa bibliografia sobre Fernando Lopes Graça, quer sobre a sua obra musical, quer sobre o seu pensamento expresso nos seus textos, quer sobre a sua biografia política. Citam-se algumas obras:

No arquivo da RTP existe um programa sobre Fernando Lopes Graça acessível em https://arquivos.rtp.pt/conteudos/fernando-lopes-graca/. Trata-se de um documentário sobre a vida e a obra do compositor e maestro Fernando Lopes-Graça, baseado numa entrevista ao musicólogo Mário Vieira de Carvalho. Inclui ainda imagens de arquivo, intercaladas com a interpretação de excertos de obras da sua autoria.

Mais recentemente (Dezembro de 2023) foi exibido o documentário Música de Graça de Joaquim Vieira que pode ser visto na RTP Play em https://www.rtp.pt/play/palco/p12547/e735550/musica-de-graca

Lopes Graça figura num quadro célebre (O Grupo do Consultório do Professor Pulido Valente) de Abel Manta em 1955 em que surgem várias figuras da intelectualidade portuguesa ligadas à oposição ao regime do Estado Novo. O quadro pode ser visto, por exemplo aqui.


Fontes de informação:


*Andrade, Luís (2021). A Seara Nova. Imprensa Nacional, Colecção O Essencial.

GSA