Associação
Bento de Jesus Caraça



Introdução Geológica

Carlos Tôrre de Assunção


Livro produzido pelo autor numa tentativa cuidadosa de divulgar aspectos centrais da geologia junto de leitores sem formação científica na área. Tôrre de Assunção tenta levar o leitor a relacionar as paisagens que eventualmente conhece com a caracterização das rochas e dos seus processos formativos explanados no livro de forma a tornar os fenómenos geológicos mais evidentes.

Um aspecto, porém, é de referir desde já: A teoria da tectónica das placas que ajudou a explicar muitos fenómenos geológicos, tinha acabado de ser apresentada na época em que este livro foi escrito e, lutava ainda pela sua aceitação no meio científico da época, o que só começou a verificar-se na parte final da primeira metade do século XX. Sintomaticamente o autor, na parte final do livro refere-se a esse novo avanço das ciências geológicas, mas, como é natural, não tinha condições para o explorar. Daí resulta uma explicação pouco consistente das dinâmicas que foram modelando a crosta terrestre, embora, ao longo do texto, essa dinâmica seja frequentemente aflorada e referida.

Muito se evoluiu desde aquela época, no conhecimento dos fenómenos geológicos em toda a sua complexidade. Não admira, por isso, que, embora este livro seja uma excelente descrição básica da realidade geológica, esteja algo distante do que hoje sabemos sobre este tema.

Numa introdução denominada Primeiras Noções o autor descreve os objectivos que pretende atingir com o livro e, por outro lado, apresenta de forma resumida alguns dos principais aspectos que desenvolverá ao longo do texto. O entusiasmo transparece, por exemplo, aqui:

É à Ciência Geológica que nos devemos dirigir para obter alguns elementos que nos aproximem, pouco que seja, da resolução de muitos problemas capazes de interessarem todos os espíritos curiosos. ¿Como é formada a crusta terrestre e como é constituído o interior do nosso planeta? ¿Como surgiram as montanhas que enrugam a face do globo e o que significam os vulcões e os abalos de terra? ¿Como evolucionou a vida até aos nossos dias? Eis algumas das grandes questões a que a Geologia procura dar uma resposta.

Tem, porém, o autor, perfeita consciência que a Geologia está ainda numa primeira fase em que se colocam mais problemas do que aqueles para os quais há respostas unanimemente aceites.

[...] será [...] com humildade que começaremos esta ligeira introdução à Ciência Geológica. Entre aquilo que o espírito humano procura desvendar e o que se conhece de um modo seguro, vai uma enorme distância.

O capítulo I é dedicado a Os materiais primários da crusta — Rochas eruptivas —  Vulcanismo. Apresenta-se o conceito de rochas primárias que são as que se formam directamente a partir do magma do interior do globo e que surgem à superfície como resultado de fenómenos eruptivos, salientando-se também o papel e a importância dos vulcões. O granito e o basalto, rochas da maior importância, quer para a compreensão dos fenómenos, quer pela sua importância económica, merecem um relevo significativo neste capítulo, não se deixando de referir, porém, outras rochas do mesmo tipo. Mostram-se ainda os diferentes modos de jazida deste tipo de rochas. O capítulo termina com um extenso texto sobre o vulcanismo, nomeadamente sobre os diferentes tipos de erupções e a sua localização, hoje, no planeta. São ainda referidas manifestações vulcânicas atenuadas como as fumarolas e as nascentes termais incluindo os geysers.

O capítulo II, Os materiais secundários da crusta — Sedimentação — Metamorfismo analisa esses dois tipos de rochas, que resultam da erosão de rochas anteriores, como é claro nas rochas sedimentares e na transformação destas por pressão e aquecimento em rochas ditas metamórficas. No contexto das rochas sedimentares são descritos os fenómenos que conduzem à estratificação com formação de múltiplas camadas de diferente constituição. No contexto da formação de rochas sedimentares é ainda referida a existência de fósseis, vestígios deixados por seres vivos, animais e plantas que viviam na época em que as camadas se formaram, e a sua importância para o conhecimento da evolução da vida na Terra e para a datação da formação dos diferentes estratos. Do estudo das rochas sedimentares e da sua forma de estratificação, resulta uma área significativa das ciências geológicas, a Estratigrafia que permite estudar a evolução temporal da crusta.

O capítulo prossegue com um estudo mais detalhado das rochas arenáceas e argilosas dos calcáreos e das rochas não calcáreas de origem química e orgânica. Após uma descrição das principais rochas sedimentares, volta o autor à estratigrafia para apresentar o conceito de fácies que consiste para cada camada estratificada no conjunto dos seus caracteres petrográficos e paleontológicos.

O capítulo termina com uma secção dedicada ao metamorfismo e aos diversos tipos de rochas metamórficas.

o capítulo III, A arquitectura da crusta — Fenómenos orogénicos e epirogénicos — Sismicidade inicia-se com um estudo sobre noções gerais de tectónica onde se referem os enrugamentos que provocam as dobras nos terrenos sedimentares de camadas originalmente horizontais, as falhas e a conjugação destes dois tipos de estrutura nos mantos de carriagem. São de seguida descritos os movimentos orogénicos e epirogénicos que no primeiro caso estão na origem da formação de montanhas pelo mecanismo das dobras anteriormente descrito e no segundo resultam de movimentos verticais que elevam ou afundam muito lentamente as massas continentais. As subidas e descidas do nível dos mares podem ter os mesmos efeitos que os movimentos epirogénicos, isto é às deslocações das linhas de costa. O capítulo termina com uma breve análise dos fenómenos ligados à sismicidade.
Sobre a compreensão dos fenómenos descritos neste capítulo, verificaram-se, entretanto, avanços científicos significativos que, naturalmente, não são considerados nesta obra.

No capítulo IV, A Evolução da crusta terrestre é feito um estudo pelas diversas Eras e Períodos geológicos, intervalos de tempo com determinadas características que estruturam, de alguma forma, a visão da evolução da crusta terrestre. Do mesmo modo, a evolução da vida na Terra está ligada aos mesmos períodos. Claro que esta visão vai evoluindo com os conhecimentos adquiridos em cada época, mas também com a perspectiva das diversas escolas de geologia. Isso revela-se na definição dos períodos geológicos e, por vezes, também nas eras, sobretudo na primeira.

Este é para o autor o capítulo fundamental do livro. Sobre ele, diz-nos o autor, contextualizando-o

Nos capítulos anteriores [...] procurámos desenvolver, na medida do possível, certas noções preliminares, reservando este capítulo para a exposição sumária dos factos fundamentais da história da Terra.

A evolução da crusta é assim dividida em quatro eras: Agnostozóica (a mais antiga), Paloeozóica, Mesozóica e Cenozóica, que se dividem, por sua vez em vários períodos. Um aspecto curioso é o autor não situar temporalmente as eras e períodos, não havendo, desse modo, uma perspectiva da duração dos diversos períodos de evolução da crusta. É interessante constatar que, embora a tectónica de placas (que no livro é referida como das translações continentais) não fosse ainda aceite na época em que o livro foi escrito, como já se referiu, a descrição da evolução dos continentes nas épocas mais recentes, sobretudo, apontava já para uma situação em que essa teoria seria a que mais logicamente podia explicar os fenómenos observados, como aliás o autor sugere, referindo explicitamente Taylor e Wegener os cientistas que inicialmente propuseram a referida teoria.

Na descrição das diversas eras e períodos o autor tem o cuidado de referenciar zonas de Portugal que se inserem em cada um desses períodos.

O livro termina com um cuidado índice remissivo de grande utilidade para uma leitura mais aprofundada do livro.

GSA