A obra Prometeu Agrilhoado ou Prometeu Acorrentado como também é designada no Brasil, fazia parte de uma trilogia em que o segundo volume seria Prometeu Libertado e a terceira Prometeu Portador do Fogo. No entanto, estas duas obras, tal como muitas outras de Ésquilo foram perdidas e nunca foram encontradas.
No mito de Prometeu, este rouba o fogo aos deuses e dá-o aos homens para estes poderem ter uma vantagem em relação aos outros animais que tinham sido criados pelo seu irmão Epitemeu. O fogo pode ser considerado como um símbolo do conhecimento e da cultura. Prometeu é castigado pelos deuses, nomeadamente Zeus, de forma muito violenta. Repare-se a semelhança com outros mitos, como o da expulsão de Adão e Eva do paraíso na sequência do consumo da fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal o que lhes estava vedado por Deus.
O aparecimento do livro na Biblioteca Cosmos surge, portanto, para alguns estudiosos como uma alusão ao papel da Biblioteca Cosmos no panorama socio-político do regime, havendo mesmo quem visse em Bento de Jesus Caraça um Prometeu moderno.
Um interessante livro em que é estudado o contexto em que surge a Biblioteca Cosmos e é analisada a relação do pensamento de Bento de Jesus Caraça com a herança cultural da antiguidade clássica é a obra Uma Biblioteca contra o Inferno de João Oliveira Duarte, 2017, Ego Editora, Lisboa.
Há actualmente uma controvérsia sobre a autoria da tragédia Prometeu Agrilhoado havendo uma corrente significativa que considera que a tragédia não é da autoria de Ésquilo. Ver, por exemplo, o artigo da Wikipedia sobre Prometeu Agrilhoado, artigo que tem, para além disso, muita informação sobre a tragédia.
Há um interessante artigo de Miguel-Pedro Quadrio sobre a tradução de Eduardo Scarlatti de Prometeu Agrilhoado. O artigo Da literatura como resistência eloquente: a tradução de Prometeu acorrentado sob a ditadura de Oliveira Salazar é acessível na net (Caligrama, Belo Horizonte, v. 23, n. 2, p. 199-215, 2018).
No Prefácio, Scarlatti começa por expor as dificuldades em traduzir a obra de Ésquilo, tanto mais que não sabia grego, e a estratégia seguida para obter um resultado, tanto quanto possível, fiel ao texto original e aos objetivos da Biblioteca Cosmos e da sua orientação de tornar a cultura acessível. Esta questão é, aliás, a principal razão para realizar uma nova tradução, sabendo que existia já a tradução de Basílio Telles. Essa era uma tradução muito fiel mas de difícil leitura por um público não especialista. É interessante ler em paralelo esta parte do prefácio e o artigo de Quadrio acima citado.
Na continuação do Prefácio, Scarlatti apresenta uma visão do nascimento e história do teatro grego e a contextualização do trabalho de Ésquilo e desta obra em particular, nesse referencial. Refere com algum detalhe os aspectos inovadores que Ésquilo introduziu e vulgarizou.
Seguidamente Scarlatti introduz um conjunto de considerações sobre a obra em si e a sua relação com o pensamento da época em que foi apresentada que se revelam bastante interessantes para compreender melhor a obra e a sociedade grega da época.
No Youtube há uma representação desta peça pela Associação Cultural Thiasos com encenação de António Gil Cucu.
GSA