Associação
Bento de Jesus Caraça



Actividade Dramática de Gil Vicente
&
«Farsa de Inês Pereira»

Marques Braga

Livro que continua actual, em que é feita uma análise detalhada da vida de Gil Vicente na perspectiva da sua actividade dramática e da sua relação com a corte. O livro é completado com a inclusão da Farsa de Inês Pereira profusamente anotada.

O Capítulo I, Gil Vicente, uma breve introdução ao livro, enquadra a obra literária de Gil Vicente na literatura portuguesa do século XVI e faz uma brevíssima análise do que se pode inferir da personalidade do autor com base na sua obra.

O capítulo II, Actividade Dramática, é a parte mais alargada e importante do livro com análise da sua obra e da sua evolução ao longo de toda a vida de Gil Vicente. É estruturado em torno de quatro épocas.

Na primeira época, de 1502 a 1508, o início da sua actividade dramática, Gil Vicente é protegido por D. Leonor, viúva do rei D. João II, no reinado de D. Manuel I. A sua primeira obra conhecida, o Monólogo do Vaqueiro, ainda redigido em castelhano, é exibido na corte em homenagem ao nascimento do futuro rei D. João III, filho de D. Manuel I e Dª. Maria, a sua segunda mulher em Junho de 1502. D. Leonor ficou muito agradada com a apresentação e, a partir daí, foi fazendo várias encomendas. Nesta época, Gil Vicente está ainda muito perto dos seus contemporâneos, sobretudo, castelhanos.

A segunda época decorre de 1508 a 1516. Nessa época consolida-se a sua posição na corte e, por outro lado, inicia-se um caminho autónomo que o vai afastar das soluções clássicas seguidas por outros escritores. Gil Vicente vai abandonando os temas bucólicos e ingénuos e inicia o seu percurso por peças de maior fôlego, quer com autos de pendor analítico e crítico, quer com farsas que se vão tornando textos de intervenção. Muito do seu teatro continua em castelhano, refletindo o que era ainda a língua culta da corte. Este período inicia-se com o Auto dos Quatro Tempos e a Farsa do Escudeiro e termina com o Auto da Fama sobre a expansão portuguesa e o Auto das Fadas farsa em que parodia as aventuras e intrigas amorosas da corte de D. Manuel.

Na terceira época (1516-1525) Gil Vicente está já no máximo das suas qualidades, escrevendo e encenando muitas das suas obras mais conhecidas, iniciando a época com a trilogia das Barcas (Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória). D. Manuel morre em 1521, sendo a Tragicomédia das Cortes de Júpiter a última representação em vida de D. Manuel. A Comédia de Rubena é a primeira obra de Gil Vicente, já no reinado de D. João III. É nesta época que Gil Vicente escreve, em 1523, A Farsa de Inês Pereira que é transcrita e comentada neste livro.

A quarta época inicia-se em 1525, ano em que morre D. Leonor que tinha sido a sua protectora e a sua interlocutora principal a nível da corte, e termina 11 anos mais tarde, em 1536 com a morte de Gil Vicente. É uma época que apanha o escritor com um prestígio reconhecido, mas em que a morte de Dª Leonor, leva a que Gil Vicente tenha de se colocar na dependência de D. João III, situação que ele assume de forma mais ou menos explícita perante o rei. O seu peso e prestígio refletem-se bem a propósito do terramoto de Janeiro de 1531 que deu origem a acusações aos Judeus que estariam envolvidos nas suas causas. Gil Vicente dá uma explicação científica com os conhecimentos disponíveis à época e opõe-se vivamente aos ataques aos Judeus.

Este segundo capítulo termina com uma perspectiva sobre o trabalho de Gil Vicente, começando por uma análise da influência de Erasmo de Roterdão no seu pensamento*. Outros aspectos são a linguagem utilizada, a caracterização das personagens, o lirismo, a crítica vicentina e a escola que iniciou.

No capítulo III, é feita uma brevíssima (três páginas) contextualização de Gil Vicente na Literatura Portuguesa.

É ainda fornecido um interessante anexo sobre Historiadores e Estudiosos Vicentinos que deixa pistas para aprofundar o conhecimento sore o artista e a sua obra.

Aproximadamente metade do livro é deixada para a transcrição da Farsa de Inês Pereira cuidadosamente anotada para que o leitor tenha um guia que permite contextualizar a acção e chamar a atenção para detalhes do texto que podem ser menos claros para quem não tem experiência de ler este tipo de texto do século XVI.


*Recorde-se que o número duplo 80/81 da colecção é O Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdão.

GSA