Este livro é escrito pelo autor em conjunção com as intenções definidas por Bento de Jesus Caraça como objectivo desta colecção. Disso é testemunha a Nota do Autor com que Henrique de Barros prefacia o livro. É dessa Nota que se transcreve o seguinte trecho:
O tema deste opúsculo é a importância mundial da cultura do trigo. Nele tentarei versar os principais problemas que esta cultura suscita.
Não me julguei no direito de recusar a colaboração pedida pelos iniciadores da Biblioteca Cosmos, visto que o seu propósito — a difusão da cultura entre as massas populares — me ser tão caro como a eles. Considerei a aceitação ao convite como imperioso dever, e esse motivo, e nenhum outro mais, me levou a escrever estas páginas de mera divulgação. Não se destinam elas aos técnicos nem aos economistas nem aos agricultores: nem uns nem outros encontrarão oportunidade de aprender na sua leitura seja o que for. Destinam-se ao povo, sequioso de cultura geral e de informação, ansioso por conhecer alguma coisa dos grandes problemas a que afinal, está preso o seu destino e de que, por fim, tão pouco sabe e tão pouco lhe dizem. Simples intenção divulgadora é, portanto, repito, a minha. Não excluirá, apesar disso, a probidade na documentação, a exactidão nos pormenores, o rigor técnico na expressão e apreciação dos factos, a veracidade e a isenção nos comentários.
O livro, após uma breve introdução sobre A função do solo agrícola, começa por analisar, no seu primeiro capítulo, A planta do trigo, isto é, o trigo como planta inserida no grupo dos cereais, sempre na perspectiva da sua importância na alimentação humana. Após uma comparação entre o valor alimentar de vários cereais, analisam-se as diversas variedades de trigo, tendo sempre em conta a preocupação da sua utilização como alimento, sobretudo através do pão. Após o estudo da evolução da produção de trigo no mundo e da sua distribuição geográfica, incluindo dados detalhados dos países com maiores produções e com maiores consumos na época em que o livro foi escrito (início dos anos 40 do século XX), é ainda feita uma breve análise do modo como o trigo é cultivado e das respectivas condicionantes.
O segundo capítulo é dedicado aos Aspectos económicos mundiais ligados à produção e comercialização do trigo numa perspectiva global. Analisa-se, o peso do trigo na economia, as rotas do comércio mundial do trigo, as tendências de variação da produção e consumo, com atenção específica a países importadores e países exportadores, os processos técnicos ligados ao comércio do trigo, e aspectos ligados ao consumo do cereal diversificados por regiões. Trata-se de um capítulo riquíssimo que desenha uma visão global riquíssima, mas que está obviamente ligada à época em que foi escrito.
No terceiro e último capítulo, é analisada a Política do trigo, quer a nível global, quer a nível nacional. Inicia-se o capítulo com uma crítica da irracionalidade da economia ligada à produção de trigo nomeadamente no que diz respeito à tentativa de vários países de limitar as importações do cereal, dedicando terrenos completamente inadequados para a produção interna de trigo, que acaba por não ser de grande qualidade e, no entanto, é caro como consequência da falta de produtividade desses terrenos. Avança-se para uma análise dos custos de produção e das diversas políticas nacionais no contexto deste assunto e, como consequência destes factores, as diversas políticas nacionais para garantir a disponibilidade de trigo e a maximização da produção a preços competitivos. A questão do consequente aumento de preço do trigo é outro aspecto focado. Por fim, é abordada a questão da política do trigo em Portugal. É feita uma descrição das políticas implementadas desde o século XIII e das crises que foram surgindo e da forma como foram resolvidas. Este capítulo termina com uma breve referência à Campanha do Trigo lançada por Salazar e aos seus perigos e incongruências.
Há que ter em consideração que este livro foi escrito em 1941, e está, portanto, marcado pela época, pelas variedades de trigo então existentes, pelas políticas seguidas até então e pelo tipo de comércio internacional da altura.
GSA