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Abel Salazar


Abel de Lima Salazar foi um homem multifacetado: médico, professor, investigador científico, ensaísta, artista plástico (desenho, escultura e pintura) e resistente anti-fascista. A sua pintura tinha já traços precursores do neo-realismo.

Abel Salazar nasceu em Guimarães em 19 de Julho de 1889 e faleceu em Lisboa em 29 de Dezembro de 1946. Trabalhou e viveu a maior parte da sua vida na cidade do Porto.

Abel Salazar frequentou o curso de Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto (actual Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) entre 1909 e 1915, ano em que conclui o curso. A sua tese final Ensaio de Psicologia Filosófica recebe a classificação de 20 valores.

Em 1918 é nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto que tinha entretanto sido criada em 1911 a partir da Escola Médico-Cirúrgica. Abel Salazar, para além do ensino, dedica-se à investigação científica ganhando grande prestígio internacional na sua área. Desenvolveu algumas técnicas histológicas, ainda hoje utilizadas. Fundou e foi director do Instituto de Histologia e Embriologia da Universidade do Porto. É considerado um dos fundadores da Escola Portuguesa de Histologia, em conjunto com Marck Athias e Celestino da Costa, com os quais funda os Arquivos Portugueses de Ciências Biológicas.

Em 1921 casou-se com Zélia Barros. Não teve filhos.

Em 1928, como resultado do trabalho intensíssimo em condições muito deficientes, sofre um esgotamento e interrompe a sua carreira por quatro anos. Em 1932 volta ao trabalho e tem de reconstruir o Instituto que tinha criado, e estava desactivado e a respectiva biblioteca que, entretanto, tinha sido integrada na biblioteca de Anatomia da Faculdade.

Desenvolveu actividade contra o regime Salazarista. Como consequência é expulso da sua cátedra, do seu laboratório e proibido de frequentar a Biblioteca e sair do país. O diploma legal que o expulsou, afastou também Aurélio Quintanilha, Manuel Rodrigues Lapa, Sílvio Lima e Norton de Matos.

Afirma Abel Salazar no seu curriculum: Além dos trabalhos científicos fiz na Universidade cursos sobre a Filosofia da Arte, conferências sobre a Filosofia, onde desenvolvi um sistema de Filosofia que acabo de constatar com satisfação ser bastante próximo da Escola de Viena. Foi o desenvolvimento deste sistema filosófico que, tendo desagradado à Ditadura e ao Catolicismo, foi a causa principal da minha revogação. Mas, como a ditadura não se podia basear nesta questão, ela torneou a questão, fazendo através da sua imprensa uma campanha de difamação, etc., após a qual me demitiu sem processo nem julgamento.

Abel Salazar, que já tinha antes uma actividade artística de grande qualidade, dedica-se, a partir do seu afastamento a uma riquíssima actividade como artista plástico. Muitas das suas obras estão hoje expostas na Casa Museu Abel Salazar. Abel Salazar desenvolveu ainda uma obra teórica nas áreas da arte, ciência e filosofia.

Em 1941, Abel Salazar é reintegrado na Universidade do Porto pelo Ministro da Educação Mário de Figueiredo. É colocado na Faculdade de Farmácia e aí cria o Centro de Estudos Microscópicos, um dos Centros do Instituto de Alta Cultura onde continua a realizar a sua investigação com a colaboração de Adelaide Estrada. Em 1942 iniciou também uma colaboração com o Instituto Português de Oncologia, a convite do Prof. Francisco Gentil. Nesse contexto publicou vários trabalhos científicos internacionalmente reconhecidos.

Abel Salazar morre aos 57 anos em Lisboa. O seu corpo é transladado para o Porto, onde o seu funeral foi uma enorme manifestação popular de pesar.

O espólio de Abel Salazar está acessível na Casa Comum da Fundação Mário Soares e Maria Barroso

Para além da sua obra publicada na Biblioteca Cosmos, A Crise da Europa, número 31, Abel Salazar tem uma extensa obra de que se citam algumas publicações:

Em 2012 foi editada uma colecção incluindo muitas das suas obras, Obras completas de Abel Salazar, V.N. de Famalicão: Editora Humus.

Publicou abundantemente em revistas e jornais diversos. A listagem seguinte é extraída do texto de Maria Luísa Garcia Fernandes adiante referenciado em Fontes de Informação: Afinidades, Democracia do Sul, Esfera, Foz do Guadiana, Gérmen, Ideia Livre, Liberdade, Medicina (Revista de Ciências Médicas e Humanismo), Notícias de Coimbra, O Diabo, O Distrito de Beja, O Primeiro de Janeiro, O Trabalho, Pensamento, Povo do Norte, Seara Nova, Síntese, Sol, Sol Nascente, Vida Contemporânea, Voz da Justiça.

Há também um número considerável de trabalhos sobre Abel Salazar, dos quais se referem os seguintes:

Em sua homenagem foi dado o seu nome ao prestigiado Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. O Instituto tem como lema a frase de Abel Salazar: Um médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe. Em coerência com esse pensamento, o Instituto criou em 2021 uma nova cadeira no Mestrado Integrado de Medicina, Introdução à Poesia, pretendendo oferecer "uma educação humanística e humanista dos alunos de Medicina".

A Casa-Museu Abel Salazar nasceu da vontade e da dedicação de vários amigos que, a partir de 1947 iniciaram a tentativa de constituição de uma Fundação Abel Salazar que apenas se concretizou em 1963 como Sociedade Divulgadora Abel Salazar. Actualmente a Casa-Museu Abel Salazar, tutelada pela Universidade do Porto, é dirigida pela Associação Divulgadora da Casa-Museu Abel Salazar (ADMAS), uma instituição de utilidade pública, sem fins lucrativos.

Uma das edições do programa Visita Guiada da RTP, da responsabilidade de Paula Moura Pinheiro é sobre a Casa-Museu Abel Salazar.

Nos Arquivos RTP pode também ser visualizado um programa emitido em 1982 sobre a Casa-Museu Abel Salazar.

Fontes de informação:




GSA